A MORTE DE ZÉ BAIANO
Autor:
Hadoock de Aninha
Depois da trágica história
Da mulher de Zé Baiano
Vamos agora falar
Da morte desse tirano
Extinguindo-se da Terra
Em 36 fora o ano.
José Aleixo Ribeiro
Da Silva, o nome completo
Natural de Chorrochó
Um lugar muito discreto,
Falando em perversidade
Foi cangaceiro completo.
Nas histórias do cangaço
Ele foi bem conhecido
Por maltratar as mulheres
Perigoso esse bandido
Ele matava, ou ferrava
Quando sentisse ofendido.
Mas se engana quem pensar
Que não se encontra ninguém
Que lhe passe uma rasteira
Pois nessa vida se tem
Todo tipo de pessoa
Capaz de matar também.
Assim Zé Baiano um dia
O seu destino encontrou
Foi morto por um amigo
Que por tempo lhe estimou
Mas para manter-se vivo
A vida de Zé tirou.
O nome dele era Antônio
De Chiquinho conhecido
Ele tinha um bom comércio
Onde acoitava bandido
Lá vendia e se comprava
Era um comércio expandido.
A morte de Zé Baiano
Em Sergipe aconteceu
No local Lagoa Nova
Onde a trama se teceu
Pertinho de Alagadiço
Ali mesmo ele morreu.
Em São Paulo, hoje Frei Paulo
Pertencia o povoado
Onde Zé pois a mortalha
Lá ficou bem conservado
Um monumento singelo
Por muitos bem visitado.
Quem conhece o monumento
Erguido como memória
Arrepia-se todinho
Pois a morte foi notória
Mexe com o imaginário
Daquele povo e da História.
Nos versos desse cordel
O leitor perceberá
O sangue escorrendo vivo
Devaneio ele terá
Pois a morte de Baiano
De tão triste doerá.
Em junho de 36
Por aquela região
O bando de Zé Baiano
Tomava aproximação
E o cangaceiro fazia
Uma negociação.
Era um homem de negócios
Muito rico por sinal
Levava mercadoria
Junto com o seu arsenal
Cedia mirréis com juros
No ramo comercial.
Mais rico que Lampião
Riqueza tinha um bocado
Roubava nas regiões
Pois ele roubava tudo
Uma parte ele gastava
O restante era guardado.
Tudo que é vivo um dia
A morte vem pra buscar
Mas Zé Baiano pensava
Que iria se eternizar
E levava a vida de eito
Sem nunca se lamentar.
Foi no dia 3 de junho
Daquela estação, corrente
Zé Baiano procurou
Um coiteiro, certamente
Para tratar de negócios
Sendo dele um confidente.
Antônio de Chiquinho era
Um coiteiro muito esperto
Além de acoitar bandidos
Inteligente, decerto
Trocava mercadorias
Deixando o crime acoberto.
Depois de algumas ideias
Zé Baiano o convidou
Para ajudar na contagem
De um dinheiro que arrumou
45 mirréis
Que com segredo guardou.
Por ter essa intimidade
Com o bandido em questão
Autoridades da época
Colocavam a pressão
Pra Antônio matar o amigo
Tomando essa decisão.
Pra defender sua vida
Antônio avaliou bem
Esquecera da amizade
E dos acordos também
Que tinha com Zé Baiano
Mandando tudo pra o além.
Após combinar com Zé
Antônio saiu calado
Reuniu um grupo de amigos
Num instante foi escalado
um grupo para emboscada
Com tudo já planejado.
Esses amigos eram:
Pedro Guedes, Birindin
Pedro de Nica, Dedé,
Teve chamaram o 'Toim’
Todos eles empenhados
Nesse bandido dar fim.
Lagoa Nova, portanto
Fora o local escolhido
Em torno de Alagadiço,
Onde morrera o bandido
Mais valente do cangaço
Disso jamais eu duvido.
Como tantas narrativas
Que narram sobre o cangaço
Existem várias versões
Que nesse cordel não abraço
Vou contar a mais fiel
Que nestes versos eu faço.
No dia 7 de junho
Meados de 36
Zé Baiano nesse mundo
Viveu aqui a última vez
Sendo morto pelo o amigo
Ou um inimigo, talvez.
Pra por em prática o plano
Da morte de Zé Baiano
Antônio marcou com ele
Naquela mesma data e ano
Para entregar a encomenda
Bem longe do centro urbano.
16 horas da tarde
Zé Baiano se encontrava
No local Lagoa Nova
E seu grupinho esperava
Antônio chegar também
Porém ele demorava.
O Zé Baiano aguardava
Com três cabras de valia
Pois sempre foi muito atento
Como sempre repetia:
“Seguro morreu de velho”
Dessa forma refletia.
Os nomes desses valentes
Neste cordel bem versado
Listados estão: Acelino
Chico Peste e Demudado
Que registraram essa História
Há certo tempo passado.
Lá da Toca da Onça vinha
Os bandidos saindo fora
essa toca era escondida
Na Serra da Caípora
Pro cangaço a fortaleza
Naquele tempo de outrora.
O bando não percebia
Por volta daquela altura
Que colocava seus pés
Na beira da sepultura
Rondava a morte por perto
Com sua desenvoltura.
Chegando lá ao local
Que tinha sido acordado
O bando de Zé Baiano
Ficou bem desconfiado
Pois Antônio lá não estava
Naquele local marcado.
Sem saberem da traição
O bando ficou esperando
Enquanto Antônio e os amigos
De mansinho se chegando
Atacaram pelas costas
E o punhal desceu rasgando.
Começou uma gritaria
Não tiveram reação
Os amigos de Antônio
De punhal e com facão
Atacaram cruelmente
Ferindo sem compaixão.
O bando de Zé Baiano
Relutou para viver
Contudo a morte o cercava
Na terra, o sangue a escorrer
O bando no chão gritando
Remexendo-se a morrer.
A terra ficou vermelha
De triste o sol desmaiou
O céu azul escureceu
Zé Baiano se saltou
Tentou lutar com os cabras
Porém, no chão desabou.
Cortado e sangrando muito
Pediu clemência e paz
Dizendo aos assassinos
Tentando conter seus ais:
Eu digo onde tá o dinheiro
Pra me deixar viver mais!
Porém não lhe atenderam
Passaram logo o facão
Decapitando a cabeça
Sendo a última visão
Naquela hora Zé Baiano
Foi se encontrar com o Cão.
Igual como foi pensado
O plano se sucedeu
De forma espetacular
Nada de errado ocorreu
15 minutos apenas
O bando convalesceu.
Zé Baiano e seus comparsas
Pelo chão então ficaram
Onde havia um formigueiro
Ali mesmo os enterraram
Em cova rasa e as formigas
Dos corpos se alimentaram.
Depois de matarem todos
Vibraram o sucedido
Recolheram seus espólios
Um prêmio por ter vencido
Zé Baiano - o cangaceiro
Por todos muito temido.
Mesmo os corpos eterrrados
E o crime sendo apagado
Havia desconfiança
E Antônio preocupado,
Não comentou com ninguém
Ficando dias calado.
Pois Lampião se soubesse
Vingança logo queria
Sabendo que Zé Baiano
Foi morto na covardia
Desse tal coiteiro Antônio
A cabeça ele queria.
Em 24 de Junho
Na noite de São João
Lá mesmo no Alagadiço
No meio da multidão
Espalhou-se essa notícia
Chocando a população.
No dia depois da festa
Lampião ficou sabendo
Em Poço Redondo estava
Ficou logo se torcendo
Dos olhos desciam ódio
Uma vingança prevendo.
A notícia se espalhou
Governo tomou partido
Agindo de imediato
O batalhão precavido
Enviou rápido a guarda
Pro povo ser protegido.
E no dia 26
Fizeram a exumação
Dos corpos desses bandidos
Já tudo em putrefação
Encheu-se de curiosos
Olhando essa aberração.
Depois de feita a triagem
Anotando o que se via
Enterraram novamente
Ninguém se interessaria
Ficar olhando os defuntos
Pois o ambiente fedia.
Hoje em dia quem visita
O monumento existente
Encontrará uma placa
Que faz bem discretamente
Uma homenagem singela
Ao Antônio e sua gente.

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