A BALANÇA DO CANGAÇO: ENTRE HERÓI E BANDIDO | Autor: Hadoock de Aninha

 

Uns dizem que Lampião

Foi sempre herói do cangaço

Outros dizem: foi bandido!

Isso virou um embaraço

Pra tirar a história a limpo

Minhas conclusões eu faço.

 

Tudo tem ponto de vista

De cada olhar se depende

Tem coisas que são bem claras

Mas muita gente não entende

Basta atentamente olhar

Que a agente se surpreende.

 

Não vou dizer que Lampião

Foi sim um herói de verdade

Também não defendo aqui

Que pela perversidade

Foi um bandido somente

Pois nem tudo foi maldade.

 

Para analisar de fato

Separar nós precisamos

O bem do mal nessa história

E depois nós os pesamos

Para ver quem pesa mais

Dessa forma nós versamos.

 

Quando eu era pequenino

Minha mãe já me contava

Histórias de Lampião

Que a gente se arrepiava

Pois ela sempre dizia

Que era perverso e matava.

 

Nessas histórias contadas

Gosto de sal eu sentia

Quando mamãe me contava

A vida de uma Luzia

Que Lampião matou sem dó

No calor do meio-dia.

  

Certo dia essa mulher

Em casa estava sozinha

Quando Lampião chegou

Pela porta da cozinha

Perguntando para ela

Onde se tinha farinha.

 

O bando vinha com fome

Queria se abastecer

Com comida e água fresca

Antes do entardecer

Mas a mulher era pobre

Não tinha o que oferecer.

 

Com raiva Lampião disse:

Que pobreza desgraçada!

Obrigando essa mulher

Já toda desengonçada

Que comece um sal que havia

Ela assim comeu forçada.

 

Quando mamãe terminava

De contar isso pra gente

A lágrima descia no rosto

De uma forma diferente

Mais salgada do que antes

Deixando meu rosto ardente.

 

Mas depois que eu fui crescendo

A coisa foi clareando

Essa história foi mais uma

Do que o povo vai criando

No universo popular

E os mais velhos repassando.

 

Sob a luz de lamparina

Que alumiava minha infância

Outras versões eu escutava

No meu tempo de criança

Sendo Lampião um herói

No Nordeste, a liderança.

 

Uma espécie Robin Hood

Que tinha como nobreza

Dos mais ricos retirar

E espalhar com a pobreza

Se isso tudo foi verdade

Eu não tenho uma certeza.

 

Muitos atos de maldade

Diziam ser Lampião

Mas ele era cabra esperto

E nuca negava não

Pois assim mantinha a fama

De valente do Sertão.

 

Cabra esperto e inteligente

De política entendia

Manobrar aquela massa

Do tempo em que ele vivia

Com a imagem de perverso

Muita coisa conseguia.

 

Se ele foi mau ou foi bom

Que a justiça de Deus diga

Mas os relatos nos contam

Lampião foi bom de briga

Pois ministrava o terror

Naquela época antiga.

 

Deixou muitas cicatrizes

Nas terras desse Sertão

Mantando gente inocente

Ferindo com a própria mão

Os nossos antepassados

Sem nunca pedir perdão.

 

Mesmo assim virou um símbolo

Da nossa literatura

Lampião, um fiel retrato

Das artes e da bravura

Do Nordeste brasileiro

Representando a cultura.

 

 Lampião deixou sua marca

Registrada no Nordeste

Sua estética e sua arte

Que nosso Brasil se veste

Tá no cordel, na TV

Do Norte, Sul, Leste e Oeste.

 

Na história em que viveu

Teve virtudes, defeitos

Que atire a primeira pedra

Quem nunca fez uns malfeitos

Pois somos seres humanos

Somos tosos imperfeitos.  

 

Apagou-se o Lampião

Mas sua imagem está acesa

Hoje é nosso patrimônio

A nossa maior riqueza

Quem for do Nordeste está

Lutando em sua defesa. 

 

Autor: Hadoock de Aninha

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