Hadoock
Ezequiel 02/03/2021
Currais
Novos, assim como outras cidades do RN, nas últimas décadas, vem se destacando
com a forte presença de poetas populares, principalmente na vertente do cordel.
Poderíamos fazer uma lista de cordelistas, contudo, vamos falar aqui do poeta
Claudson Faustino.
Nascido
em 02 de novembro de 1988, no município de Currais Novos-RN, Claudson é
graduado em Letras-Português e Literaturas, Especialista em Linguística e
Ensino de Textos pela UFRN. Em 2008,
iniciou sua vida de poeta declamador quando entrou para o Grupo Teatral Cordel
do Pau Quebrado, em Currais Novos, declamando os poemas e os cordéis de
Jessier Quirino e Antônio Francisco.
No
ano de 2010, publicou o seu primeiro cordel intitulado: Menino Abra do Oi.
Nos anos seguintes, mas precisamente em 2011 e 2012, fez diversas pesquisas
acadêmicas focalizando "O cordel na sala de aula", em parceria com o
Dr. Amarino Queiroz, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte -
UFRN. Em 2013, publicou o livro Crônicas
e Recordações: contando memórias - em coautoria com a professora
Aldenora Fernandes. O livro foi financiado pelo edital do BNB de Cultura. No
ano de 2017, o poeta foi homenageado
pela Escola Estadual em Tempo Integral Capitão Mor. Galvão, em Currais Novos,
que foi agraciada com a Cordelteca Poeta Claudson Faustino.
Em
2018 foi apresentador do programa cultural de TV, intitulado de Menino Abra
do Oi, no canal Comunitário da Sidys TV a cabo. No mesmo ano, foi
radialista no programa cultural Menino Abra do Oi, na Rádio Currais
Novos 90,9 FM. Os programas eram voltados para as músicas dos repentistas,
aboiadores, emboladores e entrevistas com os poetas. Atualmente o poeta é
professor de Língua Portuguesa da rede pública do município de Cruzeta-RN.
Seus
cordéis, assim como tantos outros, tratam de temas diversos, incluindo as
paisagens sertanejas, os animais, a critica social entre outros. Claudson é
mais um potiguar que contribui para a nossa literatura. Desde de sua iniciação
na produção de cordéis até o momento, o poeta publicou os seguinte títulos:
Títulos publicados:
• Menino Abra do Oi - 2010
• Pedaço de Mau Caminho - 2014
• A Revolta da Bicharada contra a
Vaquejada - 2015
• O Político Sincero - 2017
• ABC dos Cornos Apaixonados - 2018
• A Lenda da Caipora - 2019
• Os Violeiros Zé Tatu e Zeca Cururu –
2019
Para que o leitor conheça melhor sua obra,
passamos a leitura do cordel Menino abra do Oi! (2010):
MENINO
ABRA DO OI
Casa
de taipa e alpendre,
Um
banco e dois tamborete,
Uns
ossos de “galete”
Num
terreiro bem barrido,
Bostas
de cabrito
Espalhadas
pelo chão,
No
“bura” um “cocão”
E
um moleque “zanoi”,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Um
pé de mandacaru
E
um tiro de baladeira,
Criança
na mamadeira
E
outra querendo “bubu”,
Uma
matando cururu
De
lado do cacimbão,
Cuia,
pinico e pilão
E
um chocalho de boi,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Um
“quarenta” com café,
Tapioca
e macaxeira,
Tigela
na prateleira,
Faca,
garfo e colher,
Um
chapéu e um boné,
Fogão
a lenha e carvão,
Caçarola
com pirão
E
buchada com arroz,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
No
banheiro uma goteira
E
uns canecos de lata,
Lagartixas
e baratas
Andando
nas “teias”,
Uns
berros de “oveias”,
Algarobas
e camaleão,
Golinhas
no assaprão
E
um jumento zarôi,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Três
bodes e um carneiro
E
um poço escassez,
Galinhas
e galo pedrês
Dentro
do galinheiro,
No
fundo uns marmeleiros,
Gravetos
e um pavão
E
no terraço um caldeirão
E
um chifre de boi,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
No
terreiro um pote d’água
E
uma cadeira de balançar,
Um
pião e um caçuá,
Barris
e galões de água,
No
varal uma anágua,
Uma
corda e um gibão,
No
batente um pano de chão
E
uma “muier” catando “pioi”,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Carro
de tábua prostrado,
Cuscuzeira
e rapa-coco,
Um
arrancador de toco
Em
um toco sentado,
Com
enxada de lado
E
um caibo de “foimão”,
E
uns sacos de ração,
Milho,
fava e arroz,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Moleque
cheio de remela
Atacado
por muriçocas,
No
prato duas tapiocas
E
muita farofa na panela,
“Véia”
cubando da janela
Pra
depois a falação,
Vaqueiro
com um violão
Dirigindo
um carro de boi,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Um
peru velho tarado
No
meio do quintal,
Uns
tocos, uns paus
E
uns arames farpados,
Um
chiqueiro varado,
Um
carro “véi” a bujão,
Caixote,
baú e caixão,
Onde
a galinha já “poi”,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Pamonha,
milho e canjica,
Menino
tirando meleca,
Um
jogo de peteca,
“Esconde,
esconde” e “tica”,
“Cavalo
de pau” e “pipa”,
“Policinha
e ladrão”,
“Elástico”
e “garrafão”,
São
as brincadeiras que já foi,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Avéloz,
jurema e jatobá,
Buraco
de peba e formigueiro,
Xique,
xique e cupinzeiro,
E
na arapuca um preá,
E
um canário a cantar,
Na
tardezinha do sertão,
Culto,
xangô e procissão,
E
um bumba-meu-boi,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
Uns
políticos corruptos,
Padre,
crente e macumbeiro,
Uma
bicha e um cachaceiro
Dentro
da casa do matuto,
Brigas,
arengas e chafurdo,
Com
foice, faca e facão,
Porta,
porteira e portão,
Fechada
com trinco e “ferroi”,
Menino
abra do oi
Pra
coisas do meu sertão.
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