A UTILIDADE DOS SACOS INUTÉIS


Hadoock Ezequiel


Chegou na clínica

uma senhora de cabelos de neve crespo,

trazendo nas costas o peso do tempo 

debaixo do casaco de crochê bege. 


Nas mãos rápidas, mas sem equilíbrio...

Segurava uma sacola média com nomes azuis

escrito em caixa alta: SECRET.


Olhou para um lado,

Olhou para o outro.


Abriu a sacola e retirou de dentro uma sacolinha azul amarrotada. 

Abriu-a 

desatou um nó apertado 

de uma sacolinha branca que estava dentro dela. 

Pegou uma garrafinha d’água de tampa branca encardida. 

Despejou lentamente três goles e bebeu. 


Guardou tudo e pôs as mãos rápidas e desequilibradas por cima da sacola 


15 minutos depois

abriu a sacola média

pegou um saquinho amarelado estampado de corações. 


Nesse não havia nós.


Com dois dedos, 

abriu as bordas do saco e puxou a carteira de trabalho.

Abriu o documento e verificou se o RG que estava dentro. Depois a guardou. 


Enfiou a mão até tocar o fundo da sacola 

e puxou, como quem pesca, um saquinho rosa. 

Abriu-o com jeito e verificou se o dinheiro estava todo. 


Guardou tudo,

Pôs as duas mãos por cima da sacola média e sorriu para alegrar a alma.


Meia hora depois...


Uma voz feminina chama: 

- Dona Minervina, sua vez!

Pode entrar!


Com as costas envergadas de tempo, 

A velhinha se levanta rápida e desequilibrada,

levando com ela a utilidade dos sacos inúteis. 


(Hadoock)

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