Dica da Semana - Pesquisa investiga adequabilidade de habitat de primatas

 

10 de novembro de 2020 


Marcos Neves Jr. de Agecom




Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRN realizaram um estudo cujos resultados preenchem lacunas importantes no conhecimento das ciências ambientais. Intitulado Influência da extensão espacial em modelos de adequabilidade de habitat para espécies de primatas da Mata Atlântica, o estudo foi publicado recentemente pelo periódico Ecological Informatics.

Modelagem de adequabilidade de habitat é uma ferramenta que analisa as relações entre dados de ocorrência de espécies e variáveis ambientais como temperatura e precipitações. A partir dessas informações são projetados mapas contínuos com valores que variam de zero a um, medindo o quanto os locais são mais ou menos adequados para uma espécie alvo, determinando o que os pesquisadores chamam de superfície de adequabilidade.

Os autores mostram no trabalho que a extensão espacial utilizada na construção das modelagens não influenciou o padrão espacial das superfícies de adequabilidade de habitat, mas afetou a área das distribuições geográficas obtidas a partir desses modelos. Mas isso é positivo ou negativo? O que significa esse resultado? De acordo com Vagner Lacerda Vasquez, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGEco/UFRN) e primeiro autor do artigo, o estudo apresenta parâmetros que podem subsidiar futuras pesquisas na área, levando à construção de modelos de adequabilidade mais precisos.

“Na verdade, o que está por trás desse trabalho não é dizer se esse resultado é bom ou ruim. Muitos estudos anteriores foram feitos sem levar em consideração os possíveis impactos que a escolha da extensão espacial poderia causar nos resultados da modelagem. Agora, outros pesquisadores podem utilizá-lo como referência, sabendo quais as consequências que essa etapa pode gerar no resultado de seus modelos”, afirma Vagner.

E qual é, afinal, a influência da extensão espacial? Para descobrir, foram utilizadas três diferentes no estudo: uma maior, abrangendo todos os registros de ocorrência das espécies avaliadas; uma intermediária, a do bioma Mata Atlântica; e uma menor, a distribuição geográfica dos primatas. Os pesquisadores concluíram que os padrões espaciais dos valores de adequabilidade não variaram entre os modelos gerados a partir das diferentes extensões, no entanto modelos construídos em áreas maiores obtiveram médias mais altas em comparação aos feitos em extensões menores.

“Isso [ocorre] por conta da heterogeneidade ambiental e climática que uma área maior é capaz de capturar. Se utilizarmos toda a América do Sul como extensão espacial, teremos as condições ambientais e climáticas dos Andes, da Amazônia, da Caatinga, que possuem características muito diferentes, e isso pode influenciar nos modelos ajustados. Agora, se usarmos apenas o Nordeste do Brasil, essa diferença é menor. Nosso trabalho demonstrou que as consequências dessa escolha será refletida no resultado da modelagem”, detalha Vagner.

A pesquisa é ainda a primeira do tipo a analisar primatas da Mata Atlântica. Grupo de mamíferos com alto número de espécies ameaçadas de extinção, eles são também objeto dos próximos passos do estudo. Segundo Vagner, se valendo da modelagem de adequabilidade de habitat, o seu projeto de mestrado “abrangerá o entendimento dos efeitos das mudanças climáticas projetando as distribuições esperadas no futuro, o diagnóstico da situação da paisagem florestal nessas distribuições e o estado de conservação das espécies de primatas da Mata Atlântica em áreas protegidas”, explica.

Também assinam o artigo Míriam Plaza Pinto, professora do Departamento de Ecologia e orientadora do artigo, e Adriana Almeida de Lima, doutoranda do PPGEco, e Ariston Pereira dos Santos, aluno de graduação em Ecologia. Para ler o texto na íntegra (em inglês), clique aqui.


Fonte:https://ufrn.br/imprensa/noticias/41907/pesquisa-investiga-adequabilidade-de-habitat-de-primatas


Edneide Galvão

Coordenadora do Polo UAB de Currais Novos

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