CEM ANOS DE CURRAIS NOVOS SEM ESQUECER JOSÉ BEZERRA GOMES

 

 
 
 

Falar de Currais Novos é falar de cultura em suas diversas formas. Terra de gente famosa e criativa. Daqui surgiu e continua surgindo figuras importantes para o cenário cultural nacional. Em termos literários, a cidade vem contribuindo ao longo dos anos para a Literatura Potiguar e porque não dizer, brasileira.

Embora exista uma produção consistente, muitos desconhecem os autores e obras potiguares. Contudo, nos últimos anos, essa realidade vem mudando a partir de estudos acadêmicos e a nossa literatura se revela aos olhos de nossos leitores. Um estudo importante que deu visibilidade a produção literária potiguar é o livro Literatura do Rio grande do Norte, de Duarte e Macêdo (2001). As autoras traçam o panorama dessa literatura, dividindo-a em quatro momentos: formação, transição, modernista e contemporânea.

Vale destacar, portanto, o período modernista. Não porque ele tenha sido o mais importante que os demais períodos, mas porque traz o escritor Currais-novense José Bezerra Gomes (1911-1982) que em sua obra, apresenta forte expressividade do regionalismo.

No aniversário de cem anos da cidade, nada melhor do que exaltarmos a obra literária de um de seus filhos. Autor de Os brutos, José Bezerra Gomes aborda o tema do Sertão, de sua gente e as transformações sociais e políticas ocorridas em sua época, como o ciclo do algodão e os coronéis, mais especificamente no Seridó.  Em os brutos, por exemplo, ele narra os problemas sociais da pequena cidade de Currais Novos daquela época.

Em sua produção, ele não se limitou apenas ao gênero romance. Foi romancista, contista, poeta, advogado, político, jornalista, historiador e pesquisador da cultura popular, dando grande contribuição para os estudos sobre o Teatro de João redondo. Como advogado, de acordo com Gurgel (2001), não se sabe muito de sua atuação. Como escritor, deixou um legado para o povo Currais-novense e para a literatura do estado. Quanto ao José Bezerra Gomes político, no cargo de vereador, fez o projeto de lei, instituindo a Diretoria de Documentação e Cultura da prefeitura de Currais Novos e ainda participou da elaboração do Estatuto do Centro Esportivo Currais-novense, e foi seu diretor durante dez anos.

Antologia Poética, livro publicado em 1975, o autor traz pequenos poemas, alguns com apenas um verso, servindo de título e estrofe ao mesmo tempo, o que rompe com a estética literária do seu tempo, uma vez que trazem em sua estrutura características do contemporâneo. Como evidenciamos no poema abaixo:

Seridó

Casa grande

 

            Embora sejam apenas dois versos, um funcionando como título e outro como estrofe, em uma primeira leitura, pode-se pensar que o poema não diz muito. Contudo, ele é carregado de simbologia, que nos remete ao Ser(tão), ao Seridó, de tradições, religiosidade, ciclos do gado e do algodão, da seca, do inverno e tantos outros elementos que compõem a memória do seridoense.

            A palavra Seridó, por si só já traz toda essa memória, mas quando o eu poético a complementa com Casa grande, o leitor rememora um tempo seridoense de famílias tradicionais, de um sistema patriarcal, de uma casa grande de famílias grandes. De coronéis, de farturas, de cantorias, de pega de gado, de histórias de romances, do cordel, das brincadeiras de rodas, dos folguedos, dos casamentos, das histórias de trancoso em noites de luar e ao mesmo tempo, de saudosismo. Quem nunca parou em frente a uma Casa grande abandonada em meio a Caatinga e se imaginou no passado? Olhando-a, pensa: - Quantas histórias se passaram aqui!

            Nesse imaginário, relembro aqui outro poema do autor, intitulado: Surpresa

 

SURPRESA

 

 

Vi

minha

casa

 

 

Olhei-a

olhando

 

Olhei

olhando

para mim

 

 

O poema diz muito sobre esse saudosismo. Para quem viveu essa época, ao olhar a velha casa de fazenda, não ver uma simples casa, mas sim, uma personificação do passado em que se ouve e ver entre os escombros, memórias vividas.          

Vale a pena lermos a obra desse grande Currais-novense. Currais Novos completa cem anos de história e de cultura que precisam ser lembradas e divulgadas para os leitores conheceram nossa história. Viva Currais Novos! Viva José Bezerra Gomes!

 

Por:  Hadoock Ezequiel

14 de agosto de 2020

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