Degradação da caatinga atinge também áreas preservadas, diz pesquisa

 por Sala de Ciência
A caatinga brasileira é extremamente rica em espécies vegetais e animais que só ocorrem nesta região do mundo, porém, pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGE), do Centro de Biociências (CB/UFRN) revela que a maioria das áreas não desmatadas da caatinga estão potencialmente degradas por ações humanas acumuladas ao longo de muitas décadas ou séculos. O estudo, publicado na revista inglesa Journal of Applied Ecology nesta segunda-feira, 6, também revela áreas preciosas e ainda relativamente intactas que poderiam servir para a criação de novas Unidades de Conservação. Pesquisa anterior aponta que metade da caatinga já foi desmatada e que o que restou está espalhado em cerca de 47 mil fragmentos.
File:A Caatinga.jpg - Wikimedia Commons
Degradação da caatinga reduziu bioma em 47 mil fragmentos espalhados pela região. Foto: José Nilton Rodrigues dos Santos
“Quando visitamos algumas caatingas, vemos que elas estão super bem conservadas. Em compensação, em outras percebemos muitas trilhas e pegadas humanas, estradas de terra, marcas de fogo, troncos cortados, pilhas de madeiras, restos de munição, vacas, bodes, ovelhas, plantas exóticas, algaroba, e muito lixo. Além disto, não vemos árvores grandes e mamíferos de grande porte, como as onças, os porcos e o veado-catingueiro. Tudo isto é o que chamamos de perturbação antrópica crônica”, explica Marina Antongiovanni, ex-aluna do PGE e atual subcoordenadora de Meio Ambiente da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) do Estado do Rio Grande do Norte.
O trabalho estimou a chamada “perturbação antrópica crônica” para todos os 47 mil fragmentos de caatinga que restam. Para isto foi criado um índice matemático baseado em variáveis relacionadas às inúmeras atividades humanas que afetam direta ou indiretamente o bioma. Foram mapeados todos os fragmentos de caatinga, as estradas asfaltadas e de terra batida, as linhas de trem, as linhas de transmissão elétrica, as usinas eólicas, os canais da transposição do Rio São Francisco, o fogo, além da densidade de bovinos, caprino e ovinos e da população humana.
Perturbação antropogênica crônica de fragmentos de floresta seca da Caatinga.
“Sempre prestamos atenção ao desmatamento. Mas todos que moram na caatinga sabem que ela vem se deteriorando progressivamente. Esta degradação contribui para o declínio populacional e extinção local de muitas espécies de mamíferos e aves. Além disso, contribui para a erosão, disponibilidade de água no solo e até mesmo à alterações climáticas que podem acentuar os períodos de seca e levar à desertificação de algumas áreas”, disse Eduardo Martins Venticinque, professor do Departamento de Ecologia (Deco) da UFRN.

Para Carlos Roberto Fonseca, orientador do projeto e professor do Deco, os resultados são bastante relevantes para a política ambiental, pois, se por um lado descobriu-se que a Caatinga está mais degradada do que se supunha, por outro o estudo relevou áreas relativamente intactas que ainda representam excelentes oportunidades de conservação no bioma. “Atualmente, sabemos que a caatinga possui centenas de espécies que não existem em nenhum outro lugar do mundo. Cabe ao governo federal e aos governos estaduais liderarem iniciativas para proteção de nossa biodiversidade, seja através de práticas de manejo adequados, restauração de seus ecossistemas ou expansão da rede de unidades de conservação”, completou.

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