20 de novembro é celebrado o Dia Nacional
da Consciência Negra. Esta data não é apenas um marco, mas um convite à análise
de um legado de resistência, forjado em meio a séculos de escravidão,
desigualdades estruturais e apagamento cultural.
A Consciência Negra transcende a simples
celebração de uma data no calendário cívico brasileiro, que nos convida a uma
reflexão crítica sobre a trajetória histórica, os desafios contemporâneos e as
possibilidades futuras das populações negras no Brasil.
O Dia da Consciência Negra é celebrado em
homenagem a Zumbi dos Palmares, líder quilombola e símbolo de luta e
resistência contra o regime escravocrata. Os quilombos, como o de Palmares,
representaram muito mais do que refúgios para negros escravizados, mas espaços
de resistência ativa, liberdade, autonomia, cultura e organização comunitária
que desafiaram a lógica opressora da colonização. Compreender a relevância de Zumbi
é essencial para reconhecer que a luta pela liberdade não foi um favor
concedido, mas uma conquista histórica protagonizada pelos próprios negros.
Mesmo após a abolição da escravidão em
1888, o Brasil perpetuou mecanismos de exclusão que relegaram a população negra
a condições de marginalização social, econômica e política. O conceito de
racismo estrutural, evidencia como as desigualdades raciais estão enraizadas
nas instituições, reproduzindo a exclusão e a violência de maneira sistemática.
Dados recentes do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2023) revelam que as pessoas negras representam
a maior parte da população em situação de pobreza no Brasil, que têm menos
acesso à educação de qualidade e estão desproporcionalmente representadas nos
índices de violência.
A luta por uma sociedade equitativa passa,
necessariamente, pela educação. A Lei 10.639/2003, que torna obrigatória a
inclusão da história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares, é uma
conquista importante, mas sua implementação ainda enfrenta desafios. Porém,
promover a educação para as relações étnico-raciais vai além de introduzir
conteúdos; é criar um ambiente que valorize a diversidade e desconstrua
estereótipos.
O
Dia da Consciência Negra deve ser compreendido como um ponto de partida para
diálogos transformadores. O combate ao racismo não é uma tarefa exclusiva da
população negra, mas um compromisso ético de toda a sociedade. Da mesma forma,
a consciência negra é uma construção coletiva que nos desafia a rever nossas
práticas, desconstruir privilégios e o engajamento em prol de uma sociedade
mais justa, inclusiva e igualitária.
Portanto, esta data deve ser vivenciada
como um momento de profunda reflexão e mobilização. É imprescindível que o 20
de novembro não se limite a uma celebração simbólica, mas se transforme em um
marco de luta contínua pela dignidade e igualdade de todas as pessoas,
promovendo um Brasil mais democrático e equitativo.
Por Cléia Maria Alves
Historiadora, Mestra em Educação e Tutora dos cursos de História e Educação Física do Polo UAB de Currais Novos
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