MINA BREJUÍ: POTENCIAL HISTÓRICO, TURÍSTICO, CULTURAL E GEOLÓGICO

 

 

Mina Brejuí está localizada a oito quilômetros da cidade de Currais Novos-RN. Considerada a maior produtora de Scheelita da América do Sul, foi responsável pelo o crescimento e desenvolvimento da economia local entre os anos de 1943 e 1990.

 O apogeu da atividade mineradora ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, período no qual, a mineração fornecia minérios às indústrias para a produção de materiais bélicos, tendo os Estados Unidos como o seu principal mercado consumidor, visto que esse minério era um importante componente empregado na fabricação de armamentos e indústrias do aço.

Contudo, a partir dos anos 1980, a mineração sofreu um declínio, chegando a paralisar as atividades no final da década de 1990, devido a concorrência externa, sobretudo da China que inviabilizou a exploração do produto. Com o declínio da atividade o espaço do trabalho operário, passou por um processo de patrimonialização e musealização, transformando-se no Parque Temático Mina Brejuí.

O processo de musealização da Mina Brejuí, surgiu como uma forma de reconstruir e preservar a memória voltada para os tempos do auge da exploração do minério, materializada através dos espaços museológicos, símbolos, monumentos, fotografias, registros da família Salustino, ferramentas de trabalho e os ícones que representam a figura do operário.  Desse modo, a mina que antes era o espaço do trabalho operário, transformou-se em “lugar de memória”.

Assim, com o declínio da atividade mineradora, não só o espaço do trabalho operário, mas também a cidade de Currais Novos, que outrora foi considerada a capital da Scheelita, passou a buscar formas de sinalizar uma memória coletiva e uma nova identidade aos currais-novenses, voltadas para os tempos áureos da mina.

O processo de patrimonialização na cidade de Currais Novos aconteceu em dois momentos distintos. O primeiro foi a partir da década de 1945, período no qual a Mina Brejuí se destacava no cenário mundial, contribuindo para a geração de emprego e renda e euforia pautada no ideário de modernidade, progresso e desenvolvimento para o município.

Esse sentimento foi observado, tanto com a construção de prédios na cidade e em nomes que referenciavam a Mina Brejuí, como a construção do Hotel Tungstênio, o prédio da agência do Banco do Brasil, campo de pouso de aviões, que atribuíam à cidade um status social, quando comparada às demais no interior do estado. Outros benefícios à cidade foram o Cine Teatro Desembargador Salustino e a Rádio Brejuí, considerada, na época, a segunda emissora do Seridó.

O segundo momento se deu com o declínio da atividade mineradora, no final da década de 1980 e início de 1990. Paralelamente a essas mudanças, aos poucos, a cidade foi sendo redesenhada a partir de símbolos e imagens que faziam referência a atividade mineradora, como a construção de uma estátua em homenagem ao minerador conduzindo uma bateia, e a peça de um engenho, ambas erguidas na entrada da cidade; além da instalação de vagonetes (equipamento utilizado para transportar o minério para fora dos túneis, com a logomarca da Mina Brejuí), nas rotatórias das principais ruas. Ademais, as ruas de um bairro inteiro ganharam nomes dos variados minérios, assim como vários estabelecimentos comerciais fazem referência aos tempos da mineração.

 

Estátua do Minerador

 

Vagonetes

  Na Mina Brejuí que outrora foi espaço do trabalho operário, com o processo de musealização, foi transformado em objeto de observação, que evidencia por meio da memória, sentimentos de pertencimento e identidade nos seus aspectos social, cultural e humano.

No Parque Temático Mina Brejuí, é possível encontrar o Memorial Tomaz Salustino e, dentro do mesmo edifício, o Museu Mineral Mário Moacyr Porto, além das galerias e túneis adaptados à visitação turística e pedagógica.

No Memorial estão expostas fotografias e objetos pessoais do fundador, como roupas, móveis da casa, fotografias, objetos pessoais e entre outros objetos que contam sobre a história da família Salustino. Já no Museu Mineral Mario Moacyr Porto encontra-se um acervo mineralógico da região do Seridó, com destaque a Scheelita, de onde se extrai o metal tungstênio.

Ademais, o Parque Temático oportuniza à visitação os Túneis e as Galerias devidamente adaptados à visitação turística, onde é possível conhecer os diversos tipos de rochas da região, sobretudo o auxílio da Scheelita com o auxílio do mineralight, como também um passeio as dunas formadas pelo acúmulo de rejeito da mina; a Igreja de Santa Tereza; a Gruta de Santa Bárbara, construída em homenagem à santa; e a Vila Operária, onde residem os antigos mineradores.

A Mina Brejuí, constitui-se em um patrimônio histórico e cultural, que evidencia um capítulo da história econômica do município de Currais Novos, associado à mineração. A história e memória do trabalho estão expressas através dos espaços museológicos, a vila dos trabalhadores, a igreja, as oficinas mecânicas, além dos equipamentos antigos, e entre outros elementos que fizeram parte da história da atividade mineradora.

Ademais, a Mina Brejuí compõe um dos 21 Geossítios do Geoparque Seridó, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), como patrimônio histórico e geológico de relevância mundial.

 

O texto acima é um recorte da dissertação de Mestrado: Memórias do Trabalho na Mineração Brejuí (Currais Novos-RN): Proposta de Unidade Didática no Ensino De História Local no Ensino Médio Integrado.

 

 

Cléia Maria Alves

É Licenciada e Bacharel em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Mestra em Educação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área da Educação Básica e História, com ênfase na historiografia, Memória e Educação Profissional. Participa do Grupo de Pesquisa "Trabalho, Educação e Sociedade" (G- Três), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), filiado ao Grupo de Estudos e Pesquisas (História, Sociedade e Educação no Brasil" (Histedbr), da Unicamp. 

Tutora presencial dos cursos de História e Educação Física | Polo UAB de Currais Novos - UFRN

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