As Queimadas no Brasil: As Situações Químicas por Trás das Chamas

Por Carlson Roberto

Tutor presencial de laboratório do curso de Química - Polo UAB de Currais Novos / UFRN

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Nas últimas décadas, o Brasil tem enfrentado um aumento preocupante nas ocorrências de queimadas, especialmente em áreas como a Amazônia, o Cerrado e, recentemente, em estados como São Paulo. Além dos impactos ambientais devastadores, como a perda da biodiversidade e a manipulação do solo, há uma série de processos químicos envolvidos durante essas queimadas que merecem atenção. Compreender o que acontece no nível molecular pode nos ajudar a visualizar a gravidade da situação e a buscar soluções eficazes para mitigar os efeitos.

1. O Processo de Combustão: A Base das Queimadas

A combustão é o processo químico fundamental que ocorre durante as queimadas. Trata-se de uma ocorrência exotérmica (libera calor) entre um combustível — que pode ser madeira, matéria orgânica, vegetação seca ou outros compostos naturais — e um comburente, que, no caso das queimadas, é o oxigênio presente no ar. O resultado da combustão completa é a formação de dióxido de carbono (CO₂), vapor d'água (H₂O) e energia, além de partículas sólidas e gases tóxicos quando a combustão é incompleta.

No entanto, durante as queimadas, a ocorrência referida é completa. A quantidade de oxigênio disponível, a composição do material queimado e a umidade podem interferir, levando à formação de subprodutos perigosos.


2. Subprodutos Tóxicos das Queimadas

Durante as queimadas, especialmente quando há combustão incompleta, são liberados diversos subprodutos químicos que podem ser oferecidos tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana. Os principais incluem:

Monóxido de Carbono (CO) : É um gás incolor e inodoro, formado principalmente durante a combustão incompleta de materiais orgânicos. Altamente tóxico, o monóxido de carbono interfere no transporte de oxigênio pelo sangue, causando efeitos colaterais à saúde quando inalado em grandes quantidades.

Material Particulado (PM10 e PM2,5) : Durante as queimadas, partículas finas são liberadas no ar, conhecidas como material particulado. Essas partículas, quando inaladas, podem atingir o sistema respiratório, agravando doenças pulmonares e cardiovasculares. Em São Paulo, o aumento dessas emissões tem sido observado especialmente durante as épocas de queimadas.

Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (HAPs) : Formados a partir da queima incompleta de biomassa, os HAPs são conhecidos por serem cancerígenos. Eles se ligam ao material particulado e podem ser inalados, sendo um risco significativo para a saúde pública.

Metano (CH₄) e Outros Gases de Efeito Estufa : As queimadas também são benéficas para o aumento dos gases de efeito estufa, incluindo o metano e o dióxido de carbono. Ambos são responsáveis por agravar o aquecimento global, intensificando as mudanças climáticas, o que pode levar a um ciclo vicioso — mais calor, mais seco, mais queimado.

3. A Influência dos Compostos Nitrogenados

Durante as queimadas, o nitrogênio presente na matéria orgânica pode reagir com o oxigênio, formando óxidos de nitrogênio (NOₓ), que são substâncias atmosféricas importantes. Esses óxidos retrógrados para a formação do ozônio troposférico, um gás nocivo que afeta a qualidade do ar e a saúde humana, além de melhorar a vegetação.

Outro subproduto importante é o amônio (NH₃) , que pode se combinar com outros compostos no ar, formando partículas secundárias que agravam a poluição atmosférica.

4. Queimadas e o Ciclo do Carbono

Um dos maiores impactos químicos das queimadas está relacionado à interrupção do ciclo de carbono. A queima de vegetação libera rapidamente grandes quantidades de carbono, na forma de CO₂, que foi acumulada nas plantas ao longo de décadas ou até séculos. Isso cria um desequilíbrio no ciclo natural do carbono, agravando o aquecimento global. O que levaria anos para ser absorvido de volta pela atmosfera através da fotossíntese é liberado em questão de horas durante uma queimada.

5. Consequências Atmosféricas: Formação de Chuva Ácida

A presença de gases como dióxido de enxofre (SO₂) e óxidos de nitrogênio (NOₓ) na atmosfera devido às queimadas pode reagir com a umidade do ar, formando ácidos como o ácido sulfúrico (H₂SO₄) e o ácido nítrico (HNO₃). Esses ácidos são responsáveis pela chuva ácida , que causam danos à vegetação, contaminam corpos d'água e degradam construções.

6. Impactos Químicos na Qualidade do Solo

Além da atmosfera, as queimadas impactantes a qualidade do solo. O calor extremo pode volatilizar nutrientes essenciais, como o nitrogênio e o enxofre, tornando-os indisponíveis para as plantas. Além disso, a matéria orgânica do solo pode ser perdida, comprometendo sua fertilidade a longo prazo. O resultado é um solo menos produtivo e mais vulnerável à erosão.


Conclusão

As queimadas no Brasil, como as que ocorreram recentemente em São Paulo e outras regiões, vão muito além da destruição visível da paisagem. Eles desenvolveram uma série de processos químicos que afetam diretamente o clima, a qualidade do ar, a saúde pública e o equilíbrio dos ecossistemas. Compreender essas respostas químicas é crucial para que possamos buscar alternativas sustentáveis que minimizem esses impactos, promovendo práticas de conservação e controle ambiental mais eficazes. Além disso, políticas públicas externas para a prevenção de queimadas e a educação ambiental da população são essenciais para garantir um futuro mais equilibrado e saudável para as próximas gerações.



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