A HISTÓRIA LOCAL COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NO ENSINO E APREDIZAGEM

 


 

“A História Local requer um tipo de conhecimento diferente daquele focalizado no alto nível de desenvolvimento nacional e dá ao pesquisador uma ideia mais imediata do passado. Ela é encontrada dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir os seus ecos no mercado, ler o seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos” (Samuel, 1990, p. 220).

 

 

As tendências historiográficas no final do século XX e início do século XXI, proporcionaram abordagens e propostas inovadoras para o ensino de História, possibilitando a abertura de novos caminhos, novas leituras sobre os diversos temas, em especial, a História Local. A incorporação do cotidiano do aluno ao ensino e à aprendizagem, e a compreensão da sociedade na qual está inserido, possibilitaram uma atitude necessária, levando à superação de modelos interpretativos e cristalizados centrados nas explicações e acontecimentos em nível macro da história. Nesse contexto, a História Local e Regional, foi apontada com relevante por permitir a incorporação desses novos elementos.

No Brasil, a História Local e Regional, nas propostas curriculares, foi alvo de debates pelos historiadores, que defendiam essa abordagem como possibilidade de aproximar o pesquisador do seu objeto de estudo, relacionando os fenômenos históricos locais com os acontecimentos globais, possibilitando novas visões sobre o processo de aprendizado da História.

O crescente interesse pela História Local e Regional na historiografia está associado, em grande medida, pelo estudo do cotidiano e das questões ligadas aos processos identitários, como uma rica possibilidade de compreender os aspectos da cultura local. Desse modo, a revalorização da memória possibilita os indivíduos buscarem elementos de continuidade, símbolos de permanências e legado do passado.

A História Local tem sido compreendida como história do lugar, as vezes ligada à abordagem da história regional e/ou à micro- história. Trata-se também de uma estratégia pedagógica que permite articular a aprendizagem, a construção e a compreensão do conhecimento histórico, aos interesses do aluno, experiências culturais e atividades vinculadas à vida cotidiana.

Neste sentido, o aluno, ao estudar a região ou a localidade, precisa ter uma compreensão múltipla da História pautada em “pelo menos, dois sentidos: na possibilidade de ver mais de uma versão sobre a história local e na possibilidade da análise de ‘micro-histórias’ pertencentes a alguma outra história que as englobe e, ao mesmo tempo, reconheça suas particularidades.

A História Local desempenha um papel importante no contexto escolar pois, possibilita a compreensão da realidade do aluno em vários espaços de convivências, e ligar “à história do cotidiano ao fazer das pessoas comuns participantes de uma história aparentemente desprovida de importância e estabelecer relações entre os grupos sociais de condições diversas que participaram de entrecruzamento de histórias tanto no presente como no passado.

Nesta perspectiva, o uso da História Local com ênfase nas práticas cotidianas, torna-se um instrumento necessário, no sentido de proporcionar ao aluno a reflexão sobre as concepções de memórias associadas aos diversos grupos sociais, oportunizando uma aprendizagem significativa e crítica sobre a preservação e manutenção da memória.

A introdução sobre os estudos da memória e a História Local nas propostas curriculares foi indicado como necessário no ensino de História e auxiliar no processo de aprendizagem, visto que possibilita a compreensão da realidade do aluno e a construção de identidades, contribuindo, assim, para formação de uma cidadania crítica. De acordo com as reformulações curriculares, a introdução do ensino da história local era recuperar o aluno como sujeito produtor da História, e não como mero espectador de uma história já determinada, produzida pelos heroicos personagens dos livros didáticos.

O ensino de História Local conduz o educador a um certo desapego na centralização e compreensão dos fatos históricos a partir da História oficial, de nível macro. Para Neves (1997), a História oficial é afetada por “vícios” que dificultam sua articulação com as realidades locais. Os “vícios” mais evidentes e denunciados são: o universalismo (a história é a mesma para todos); o eurocentrismo (a história una e abrangente, uma extensão da História da Europa Ocidental); o quadripartismo (a divisão da periodização da História: Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea); e, por fim, o oficialismo (a centralização nos heróis, vencedores e grandes homens).

Partindo dessas análises, é importante fazer a articulação do geral e o local, pois “o local fora de um contexto geral, é apenas um fragmento e o geral, sem o respaldo das realidades locais, é apenas uma abstração; e, neste caso, ambos estarão destituídos de sentidos” (Neves, 1997, p. 22).

As práticas pedagógicas que elegem a História Local por fazer parte da realidade do aluno, podem ser problematizadas a partir de variadas fontes e linguagens consideradas fundamentais na construção do conhecimento e da pesquisa histórica na sala de aula. A utilização de práticas apropriadas para a construção do conhecimento histórico torna-se um mecanismo essencial que possibilita ao aluno novas reflexões no que tange à sociedade e a si mesmo.

 

Por Cléia Maria Alves

Licenciada e Bacharel em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Mestra em Educação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.

Desenvolve pesquisas na área da Educação e História, com ênfase na historiografia, Memória e História Local.

 

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