A MORTE DE ZÉ BAIANO - Autor: Hadoock de Aninha

 


Esse cordel é um dos que faz parte de uma coletânea que está para ser publicada em livro até o final do ano. O cordel aborda a temática do cangaço no Nordeste. Os dez cordéis são escritos a partir de relatos de pessoas que viveram na época ou de parentes e conhecidos dessas pessoas. Tais relatos são apresentados no canal do Youtube, chamado Cangaço e Literatura, que tem como autor o professor e pesquisador Robério Santos, do estado de Alagoas. Meus cordéis dessa coletânea, traz um contexto histórico sobre o cangaço, mas que é revestido e estruturada pela estética literária.


A MORTE DE ZÉ BAIANO

 

Autor:  Hadoock de Aninha

 

Depois da trágica história

Da mulher de Zé Baiano

Vamos agora falar

Da morte desse tirano

Extinguindo-se da Terra

Em 36 fora o ano.

 

José Aleixo Ribeiro 

Da Silva, o nome completo

Natural de Chorrochó

Um lugar muito discreto,

Falando em perversidade

Foi cangaceiro completo.

 

Nas histórias do cangaço

Ele foi bem conhecido

Por maltratar as mulheres

Perigoso esse bandido

Ele matava, ou ferrava

Quando sentisse ofendido.

 

Mas se engana quem pensar

Que não se encontra ninguém

Que lhe passe uma rasteira

Pois nessa vida se tem

Todo tipo de pessoa

Capaz de matar também.

 

Assim Zé Baiano um dia

O seu destino encontrou

Foi morto por um amigo

Que por tempo lhe estimou

Mas para manter-se vivo

A vida de Zé tirou.

 

O nome dele era Antônio

De Chiquinho conhecido

Ele tinha um bom comércio

Onde acoitava bandido

Lá vendia e se comprava

Era um comércio expandido.

 

 

 

A morte de Zé Baiano

Em Sergipe aconteceu

No local Lagoa Nova

Onde a trama se teceu

Pertinho de Alagadiço

Ali mesmo ele morreu.

 

Em São Paulo, hoje Frei Paulo

Pertencia o povoado

Onde Zé pois a mortalha

Lá ficou bem conservado

Um monumento singelo

Por muitos bem visitado.

 

Quem conhece o monumento

Erguido como memória

Arrepia-se todinho

Pois a morte foi notória

Mexe com o imaginário

Daquele povo e da História.

 

Nos versos desse cordel

O leitor perceberá

O sangue escorrendo vivo

Devaneio ele terá

Pois a morte de Baiano

De tão triste doerá.

 

Em junho de 36

Por aquela região

O bando de Zé Baiano

Tomava aproximação

E o cangaceiro fazia

Uma negociação.

 

Era um homem de negócios

Muito rico por sinal

Levava mercadoria

Junto com o seu arsenal

Cedia mirréis com juros

No ramo comercial.

 

 

 

 

 

 

Mais rico que Lampião

Riqueza tinha um bocado

Roubava nas regiões

Pois ele roubava tudo

Uma parte ele gastava

O restante era guardado.

 

Tudo que é vivo um dia

A morte vem pra buscar

Mas Zé Baiano pensava

Que iria se eternizar

E levava a vida de eito

Sem nunca se lamentar.

 

Foi no dia 3 de junho

Daquela estação, corrente

Zé Baiano procurou

Um coiteiro, certamente

Para tratar de negócios

Sendo dele um confidente.

 

Antônio de Chiquinho era

Um coiteiro muito esperto

Além de acoitar bandidos

Inteligente, decerto

Trocava mercadorias

Deixando o crime acoberto.

 

Depois de algumas ideias

Zé Baiano o convidou

Para ajudar na contagem

De um dinheiro que arrumou

45 mirréis

Que com segredo guardou.

 

Por ter essa intimidade

Com o bandido em questão

Autoridades da época

Colocavam a pressão

Pra Antônio matar o amigo

Tomando essa decisão. 

 

 

 

 

 

 

Pra defender sua vida

Antônio avaliou bem

Esquecera da amizade

E dos acordos também

Que tinha com Zé Baiano

Mandando tudo pra o além. 

 

Após combinar com Zé

Antônio saiu calado

Reuniu um grupo de amigos

Num instante foi escalado

um grupo para emboscada

Com tudo já planejado.

 

Esses amigos eram:

Pedro Guedes, Birindin

Pedro de Nica, Dedé,

Teve chamaram o 'Toim’

Todos eles empenhados

Nesse bandido dar fim.

 

Lagoa Nova, portanto

Fora o local escolhido

Em torno de Alagadiço,

Onde morrera o bandido

Mais valente do cangaço

Disso jamais eu duvido.

 

Como tantas narrativas

Que narram sobre o cangaço

Existem várias versões

Que nesse cordel não abraço

Vou contar a mais fiel

Que nestes versos eu faço.

 

No dia 7 de junho

Meados de 36

Zé Baiano nesse mundo

Viveu aqui a última vez

Sendo morto pelo o amigo

Ou um inimigo, talvez.

 

 

 

 

 

 

Pra por em prática o plano

Da morte de Zé Baiano

Antônio marcou com ele

Naquela mesma data e ano

Para entregar a encomenda

Bem longe do centro urbano.

 

16 horas da tarde

Zé Baiano se encontrava

No local Lagoa Nova

E seu grupinho esperava

Antônio chegar também

Porém ele demorava.

 

O Zé Baiano aguardava

Com três cabras de valia

Pois sempre foi muito atento

Como sempre repetia:

“Seguro morreu de velho”

Dessa forma refletia.

 

Os nomes desses valentes

Neste cordel bem versado

Listados estão:  Acelino

Chico Peste e Demudado

Que registraram essa História

Há certo tempo passado.

 

Lá da Toca da Onça vinha

Os bandidos saindo fora

essa toca era escondida

Na Serra da Caípora

Pro cangaço a fortaleza

Naquele tempo de outrora.

 

O bando não percebia

Por volta daquela altura

Que colocava seus pés

Na beira da sepultura

Rondava a morte por perto

Com sua desenvoltura.

 

 

 

 

 

 

Chegando lá ao local

Que tinha sido acordado

O bando de Zé Baiano

Ficou bem desconfiado

Pois Antônio lá não estava

Naquele local marcado.

 

Sem saberem da traição

O bando ficou esperando

Enquanto Antônio e os amigos

De mansinho se chegando

Atacaram pelas costas

E o punhal desceu rasgando.

 

Começou uma gritaria

Não tiveram reação

Os amigos de Antônio

De punhal e com facão

Atacaram cruelmente

Ferindo sem compaixão.

 

O bando de Zé Baiano

Relutou para viver

Contudo a morte o cercava

Na terra, o sangue a escorrer

O bando no chão gritando

Remexendo-se a morrer.

 

A terra ficou vermelha

De triste o sol desmaiou

O céu azul escureceu

Zé Baiano se saltou

Tentou lutar com os cabras

Porém, no chão desabou.

 

Cortado e sangrando muito

Pediu clemência e paz

Dizendo aos assassinos

Tentando conter seus ais:

Eu digo onde tá o dinheiro

Pra me deixar viver mais!

 

 

 

 

 

 

Porém não lhe atenderam

Passaram logo o facão

Decapitando a cabeça

Sendo a última visão

Naquela hora Zé Baiano

Foi se encontrar com o Cão.

 

Igual como foi pensado

O plano se sucedeu

De forma espetacular

Nada de errado ocorreu

15 minutos apenas

O bando convalesceu.

 

Zé Baiano e seus comparsas

Pelo chão então ficaram

Onde havia um formigueiro

Ali mesmo os enterraram

Em cova rasa e as formigas

Dos corpos se alimentaram.

 

Depois de matarem todos

Vibraram o sucedido

Recolheram seus espólios

Um prêmio por ter vencido

Zé Baiano - o cangaceiro

Por todos muito temido.

 

Mesmo os corpos eterrrados

E o crime sendo apagado

Havia desconfiança

E Antônio preocupado,

Não comentou com ninguém

Ficando dias calado.

 

Pois Lampião se soubesse

Vingança logo queria

Sabendo que Zé Baiano

Foi morto na covardia

Desse tal coiteiro Antônio

A cabeça ele queria.

 

 

 

 

 

 

Em 24 de Junho

Na noite de São João

Lá mesmo no Alagadiço

No meio da multidão

Espalhou-se essa notícia

Chocando a população.

 

No dia depois da festa

Lampião ficou sabendo

Em Poço Redondo estava

Ficou logo se torcendo

Dos olhos desciam ódio

Uma vingança prevendo.

 

A notícia se espalhou

Governo tomou partido

Agindo de imediato

O batalhão precavido

Enviou rápido a guarda

Pro povo ser protegido.

 

E no dia 26

Fizeram a exumação

Dos corpos desses bandidos

Já tudo em putrefação

Encheu-se de curiosos

Olhando essa aberração.

 

Depois de feita a triagem

Anotando o que se via

Enterraram novamente

Ninguém se interessaria

Ficar olhando os defuntos

Pois o ambiente fedia.

 

Hoje em dia quem visita

O monumento existente

Encontrará uma placa

Que faz bem discretamente

Uma homenagem singela

Ao Antônio e sua gente.

 

 

 

 

 

Comentários